Estou de volta ao meu Amado Brasil, após os 52 dias da Expedição Império do Sol, realizada na região de Cusco, antiga capital dos Incas, povo que amava a natureza e respeitava a imponência das montanhas.

No último e grande desafio da expedição, não conseguimos completar nosso ambicioso projeto: abrir uma rota nova na jamais escalada Face Oeste do Salcantay. Para acessar o “lado oculto” desta grande montanha, raramente avistado, já é algo complicado. Entramos por Soraypampa (3.840m), seguindo direto rumo a Face Sul, a qual contornamos pela direita pelo Passo Inca Chiriaska (4.900m); acampamos na base (4.100m) da Face Leste; atravessamos então o Passo Palcay (4.700m) para ter acesso a base da Face Norte; continuamos até Incabamba (3.400m); então subimos até as nascentes do rio Aobamba, quase realizando uma volta completa na montanha, onde montamos nosso acampamento-base.

Do acampamento-base (3.940m), começamos perceber que a Face Oeste do Salcantay era muito mais complexa e perigosa do que imaginávamos. Na verdade não conseguíamos ter uma real noção de suas dimensões, pois as nuvens carregadas de umidade que nos traziam diariamente chuva e neve, típicas da Cordilheira de Vilcabamba, em razão da proximidade com a Floresta Amazônica, não nos permitiam fazer uma avaliação correta das dificuldades. Mesmo assim progredimos, montamos um acampamento a 4.950m, e outro a 5.150m, mas nos vimos frustrados ao nos ver encurralados por abismos e trechos praticamente intransponíveis de uma rocha decomposta acima dessas altitudes.

Com nossos dias esgotados, percorremos o vale do rio Aobamba, até a sua foz (1.400m) com o rio Urubamba, situado aos pés das majestosas ruínas de Machu Picchu. Foi uma aventura emocionante, descemos das altitudes nevadas, através de uma antiga trilha Inca, para nos embrenharmos em uma floresta cada vez mais exuberante.

Nessa caminhada que durou doze horas ininterruptas, onde em vários trechos tivemos que abrir caminho com a ajuda do facão, pois a trilha que percorremos raramente é percorrida (situa-se exatamente entre o Caminho Inca, que fica à direita, e a “Trilha Salcantay” que fica à esquerda), fui relembrando as vivências que cada um dos dias desta expedição haviam me proporcionado: a escalada do Verônica (5.750m); meu retorno a Machu Picchu depois de ter realizado no passado 16 vezes o Caminho Inca; a tentativa de escalar o Pumasillo; e a escalada do Ausangate.

No Ausangate (6.372m), a maior montanha da região, fiquei uma semana em Pacchanta (4.300m), antes da chegada da equipe, vivendo junto a uma típica família campesina. Diariamente via o entusiasmo de Verônica (3 anos) e de sua irmã (10 anos), se prepararem para irem a escola. Embora fosse evidente que não tomassem banho há dias, quem sabe há semanas, cuidadosamente penteavam o cabelo, e depois saiam em caminhada para superarem 3km a pé.

A família de Verônica é tão simples e linda quanto o raiar e o pôr do sol! Comem o que a montanha lhes dá: batata, carne de alpaca e trutas. Qualquer outro tipo de comida raramente é servido, pois representa uma despesa cara. Estão se acostumando com a recém chegada energia elétrica, mas ainda não têm nenhum eletrodoméstico, nem geladeira, muito menos televisão, algo que as crianças nunca viram. Dormem ao escurecer, acordam ao amanhecer, por volta das 5 da manhã, seguindo as regras da Natureza que foram aceitas pelos Incas no seu “Império do Sol”.

Que a simplicidade nos contagie, que a Luz nos indique o caminho!

Foram 52 dias maravilhosos! Agora volto aos dias corridos aqui no Brasil, nesta semana já faço a primeira palestra (para a ADP Brasil) e volto a acompanhar em São Paulo a conclusão do meu novo livro que em poucas semanas estará pronto.

Deixo as fotos do Salcantay (6.271m), e mais algumas fotos do Ausangate, para que você sinta um pouco da magia do Mundo Andino e do espírito de aventura que envolveu a nossa bela expedição “exploratória”, que oxalá, terá a sua continuidade no ano que vem.

Que nunca lhe falte coragem para acreditar em seus sonhos, mesmo que isso signifique partir para regiões pouco conhecidas!

Um super abraço,

Waldemar Niclevicz