Escalada em: 18 de fevereiro de 1988 e 17 de fevereiro de 1989.

Junto com: em solitário.

Rota percorrida: rota Normal, face noroeste.

Dificuldade: PD, pouco difícil, porém exigente fisicamente em razão da altitude.

Tempo estimado: 10 a 15 dias desde Puente del Inca.

Época adequada: dezembro a março.

Acesso: de Mendoza estrada até Puente del Inca (175km).

Aproximação: de Puente del Inca (2.760m) caminhada de dois dias, 40 Km, até Plaza de Mulas (4.230m).

Equipamento necessário: completo para alta montanha, atenção especial para roupas que suportem o frio e saco de dormir, indispensável botas duplas, grampões e bastões de esqui.

O Aconcágua, com 6.959m, é a maior montanha da América do Sul. Está situado na Argentina, próximo da fronteira com o Chile. Esta grande montanha representa o verdadeiro início da minha carreira de alpinista profissional, bem como muitas das melhores experiências que já tive.

Foi a primeira grande montanha que escalei, em 18 de fevereiro de 1988. No dia 17 de fevereiro de 1989, consegui chegar ao seu cume pela segunda vez. Estas duas escaladas foram feitas pela Face Noroeste, por onde se desenvolve a Rota Normal, a mais acessível do Aconcágua.

A Rota Normal é na verdade uma longa caminhada, sua parte mais difícil é a “Canaleta”, que começa a 6.700m, transformando o caminho ao cume em uma interminável rampa de pedras soltas. Mesmo não apresentando grandes dificuldades técnicas, não é aconselhável enfrentá-la sem os mínimos conhecimentos de alta montanha. O frio intenso, o ar rarefeito e a possibilidade de mudanças bruscas no tempo, podem levar o alpinista sem experiência à sérias consequências.

Também já escalei o Cerro Cuerno (5.400m), e o Cerro Catedral (5.700m), vizinhos do Aconcágua. É uma ótima opção para se aclimatar antes de enfrentar a Rota Normal, pois o cume destas duas montanhas pode ser alcançado em apenas uma jornada, partindo de Plaza de Mulas (4.230m), acampamento-base da Rota Normal. São montanhas que proporcionam lindas vistas do Aconcágua.

Também fiz duas tentativas a Parede Sul do Aconcágua, citada pelo alpinista italiano Reinhold Messner como uma das cinco maiores e mais difíceis paredes do mundo. O acampamento-base da Parede Sul está a 4.100m e se chama Plaza Francia. Dali partem inúmeras rotas, sendo a mais conhecida a Rota dos Franceses, conquistada em 1954. Foi por esta mesma rota que, junto com um argentino, eu consegui chegar até os 5.900m, no início do Glaciar Superior, quando fomos surpreendidos por uma tempestade e imediatamente resolvemos abandonar a parede.


É grande o número de pessoas que me procura em busca de informações para escalar o Aconcágua.
Abaixo seguem algumas dicas que podem ajudar.


Dicas para escalar o Aconcágua

A época ideal para se escalar o Aconcágua é entre os meses de dezembro e março (melhor janeiro ou fevereiro). Geralmente é necessário no mínimo duas semanas. Quanto mais tempo para a aclimatação melhor, o grande segredo do sucesso em qualquer alta montanha.

É possível organizar sozinho toda a expedição, mas bem mais fácil e indicado contar com o apoio das agências especializadas em Mendoza, com elas é possível contratar todos os serviços, ou apenas o transporte até Puente del Inca e mulas até o acampamento-base. Facilmente se encontra o contato dessas agências pela internet.

Em Mendoza é necessário ir pessoalmente a Secretaria de Turismo para retirar a permissão para a escalada (custa de 300 a 700 dólares por pessoa, conforme a data escolhida).

É bom não deixar para a última hora, mas, se for necessário, é possível comprar ou alugar equipamentos para a escalada em alguma das lojas em Mendoza.

Em Mendoza vale a pena comprar alimentos frescos para levar até o acampamento-base (vegetais, frutas, ovos, queijo, etc.). O restante da alimentação é bom comprar no Brasil.

São 175Km de Mendoza até Puente del Inca, de onde se inicia a caminhada de aproximação. A maneira mais barata é ir de ônibus da empresa Uspallata (parte da rodoviária).

Existem agências que organizam o transporte até Puente del Inca, mesmo que você decida ir de ônibus, é interessante contratar o serviço de mulas com essas agências ainda em Mendoza. As mulas (cavalos) partem de Puente del Inca e levam a carga pesada até o acampamento-base. É possível contratar as mulas em Puente del Inca, mas talvez você tenha que esperar alguns dias até arranjar tudo.

De Puente del Inca até Plaza de Mulas são cerca de 40Km, vencidos em duas etapas. Primeiro até Confluência, onde se pode acampar logo após cruzar o rio Confluência (Confluência Inferior, 3.300m), ou um pouco mais acima, mais uns 40 minutos de caminhada (Confluência Superior, 3.500m). Prefiro o acampamento de Confluência Superior, logo após vencer a subida íngreme, bem próximo à encosta do lado direito. É uma boa idéia passar duas noites em Confluência, gastando um dia para ir até a base da Parede Sul, como aclimatação. O caminho de Confluência até Plaza de Mulas é o trecho mais difícil da aproximação, leve bastante água para esta caminhada.

Plaza de Mulas (4.230m) é um ótimo acampamento-base, porém muito agitado devido ao grande número de alpinistas. Deixe a barraca sempre bem fechada. É interessante passar pelo menos quatro ou cinco noites aqui antes de subir definitivamente para um acampamento superior. Neste período é preciso se aclimatar, subindo para altitudes superiores (aproveite para transportar comida e equipamentos) e voltando para dormir em Plaza de Mulas.

Não durma nos acampamentos superiores sem antes estar devidamente aclimatado.

Muita gente deixa Plaza de Mulas para montar o próximo acampamento em Nido de Condores. Melhor é montar um acampamento antes, em Plaza Canada, a 4.800m. Passe uma noite aqui, ou duas, depois vá para Nido de Condores, 5.300m. Se estiver se sentindo bem, passe apenas uma noite em Nido e siga para Berlin, a 5.950m. Berlin é um refúgio muito pequeno, no máximo para seis pessoas, assim não deixe de levar a sua barraca. Evite passar mais de uma noite em Berlin, se o tempo estiver ruim ou se você não estiver bem aclimatado, desça para Nido de Condores ou para Plaza de Mulas.

Comece o ataque o cume bem cedo, cinco horas da manhã é uma boa hora. Parta no máximo às seis horas. Se você estiver bem, deve levar sete horas até o cume. Se você não chegar ao cume até às duas da tarde é melhor voltar.

Dê sentido a todo o seu esforço, treine, prepare-se,
concentre-se em seu objetivo. Respeite os seus limites e a montanha.
Faça da sua escalada uma experiência agradável e inesquecível.


Treinamento

Procure contar com a orientação de um Preparador Físico, um Fisiologista e fazer uma visita ao seu Médico, antes de começar a treinar seriamente.

Dedique-se ao máximo em sua preparação física, até sentir-se bem! Sentir-se bem fisicamente é manter uma boa disposição, não sentir dores em razão de exercícios mínimos, não sentir cansaço com pouco esforço, e, acima de tudo, sentir uma boa recuperação após uma boa corrida ou qualquer outra atividade física intensa.

O treinamento para se escalar o Aconcágua deve ser de longa duração, visando adquirir resistência física e aumentar a sua capacidade aeróbica (capacidade do organismo em absorver oxigênio).

O treinamento ideal é o realizado na montanha, caminhadas de longa duração vencendo o máximo de desnível no menor tempo possível. Escaladas ajudam em muito a criar mais intimidade com a montanha e também com o manejo dos equipamentos. Como raras pessoas podem ir com frequência até a montanha, procure se dedicar às corridas e aos exercícios aeróbicos.

 As corridas devem ser no mínimo de quarenta minutos. No início não é tão importante a distância percorrida, mas manter o ritmo, que aos poucos vai naturalmente se aprimorando.

Se você fizer 7Km em quarenta minutos está bom, se fizer 8Km está ótimo, se fizer 10Km está excelente. Chegue aos quarenta minutos gradativamente, respeite o seu organismo.

Corra em dias alternados. Nos dias que não correr faça natação, exercícios aeróbicos ou pedale. Se fizer musculação prefira cargas leves e aumente o número de repetições (três séries com trinta repetições, ótimo para adquirir resistência, o que você mais vai precisar).

Sempre faça um longo alongamento após as corridas ou qualquer exercício, isso é muito importante.

Respeite as limitações do seu organismo, caso sinta desconforto pela atividade física diminua a intensidade dos exercícios. Reserve o domingo para descansar, de preferência subindo uma montanha e depois tomando um banho de cachoeira.

Mantenha o ânimo elevado e trate de se alimentar muito bem.


Sugestão de equipamentos para escalar o Aconcágua pela rota Normal:

- bota de caminhada para ir até o acampamento-base.
- botas duplas de plástico.
- saco de dormir de duved (pena de ganso).
- polaina.
- botas de caminhada.
- meias grossas.
- meias finas.
- calça de forro polar (poliamida).
- ceroula de capilene (poiamida).
- calça de gore-tex, se possível com ziper lateral.
- camisetas de capilene (primeira pele) (poliamida).
- jaqueta de forro polar (segunda pele) (poliamida).
- japona de duved.
- anorak de gore-tex.
- luvas finas (seda ou poliamida).
- luvas de forro polar (poliamida).
- mitena (é uma luva de dois dedos).
- sobre mitena de gore-tex.
- gorro para o frio.
- boné ou chapéu para o sol.
- óculos para sol, 100%UV, com proteção lateral.
- grampões.
- bastões de esqui telescópicos (muito mais útil para a Normal que o piolet).
- mochila grande 80/90 litros.
- colchonete ou isolante térmico.
- lanterna frontal.
- lanterna reserva (muito importante, pode ser outra lanterna frontal, menor).
- barraca pequena, aconselhável outra para o acampamento-base.
- altímetro.
- bússola.
- fogareiro.
- cantil.
- garrafa térmica que não quebre.
- colher (garfo e faca só atrapalham).
- canivete suíço (não é necessário o maior deles, de nove elementos é o ideal).
- panelas (uma por pessoa, de 1 a 2 litros).
- copo de plástico (grande e forte).
- prato fundo de plástico (forte).
- estojo de primeiros-socorros.
- agulhas e linhas para reparos.
- filtro solar, creme hidratante.
- isqueiro.
- sandália para usar no acampamento-base.


Mais informações : informações gerais sobre o Aconcágua, permissões, descrição das rotas, conselhos, etc.