Escalada em: 09 de abril de 2004.

Junto com: o peruano Carlos Zarate.

Rota percorrida: Normal.

Dificuldade: PD, pouco difícil.

Tempo estimado: 3 a 4 dias, após aclimatação prévia.

Época adequada: maio a outubro.

Acesso: de Chivay, de carro 4×4, até o acampamento-base (5.050m), 3 horas.

Equipamento necessário: completo de alta montanha, botas duplas, grampões e piolet.

A Escalada:

Chegar até a base do Ampato exigiu certos cuidados, deixamos o Andino na cidade de Chivay, pois tinha receio que a estrada até lá fosse ainda pior do que aquela que enfrentamos para nos aproximar do Mismi. Quanto mais eu sacudia dentro de uma van 4×4 que alugamos, mais eu me sentia aliviado por não expor o Andino desnecessariamente ao perigo. E, quase nem acreditando, após superar abismos, passagens bem estreitas, atoleiros e dunas de cinzas vulcânicas, chegamos milagrosamente com a van até os 5.050m de altitude.

Logo que desembarcamos da van, por volta das 11h00, começamos a caminhar sob a ameaça de mais uma tempestade, típica do fim da estação chuvosa. Primeiro veio uma tempestade elétrica, nos preocupando com os seus raios e trovões, logo começou a nevar forte, e continuou assim até a nossa chegada aos 5.700m, já sobre o glaciar, onde montamos a nossa barraca, por volta das 14h30.

As nuvens escuras avançaram a noite, mas de madrugada um frio de -15º C dissipou a umidade dando lugar a lua cheia que nos guiou das 4h30 até o amanhecer rumo as alturas do Ampato. Foi uma subida sem muita conversa, o frio e o vento nos obrigaram a nos concentrar na longa escalada, sempre sobre uma neve fofa, onde nos afundávamos às vezes até o joelho.

Quando começamos a atravessar a grande cratera em direção ao cume principal, já sobre os 6.000m, comecei a identificar os pontos da épica descoberta da “Juanita”, “A Dama do Ampato”, que lá naquelas alturas, entre os seus 12 e 14 anos, foi sacrificada em honra aos “deuses” há cinco séculos. E como os Incas poderiam escalar uma montanha nevada com mais de 6.200m de altitude naquela época, aparentemente sem o conhecimento que temos hoje do que é o alpinismo?

Digamos que os Incas tiveram uma grande ajuda, com certeza a mesma que os descobridores de Juanita (e de mais três múmias), em 1995, quando as cinzas do vizinho Sabancaya (que estava em erupção) se depositaram sobre as neves do Ampato, causando praticamente o seu total derretimento (pois absorviam facilmente o calor do sol), propiciando os achados arqueológicos.

“Juanita” não era uma múmia qualquer, era uma “seqsiy”, uma “escolhida” a dar fim a seca, aos terremotos e cinzas dos vulcões Misti e Sabancaya que estavam em erupção e causavam a contaminação das águas, a perda dos cultivos e a morte da população. Graças ao trabalho dos arqueólogos a história de Juanita foi resgatada e hoje está conservada em uma bela exposição em um museu em Arequipa.