Escalada em: 31 de julho de 2011.

Junto com: Eiki Higaki.

Rota percorrida: Diedro Fehrmann + Berger Ampferer até o cume.

Dificuldade: (Fehrmann, 350m, V) + (150m da Berger Ampferer IV+)

Tempo estimado: 1 dia.

Época adequada: julho e agosto.

Acesso: de Madona di Campiglio, ida de carro, 5 km, até o Refúgio/Restaurante Vallesinella (1.530m).

Aproximação: caminhada pela trilha “317” até o Refúgio Cassinei (1.825m), depois pela trilha “318” até o Refúgio Brentei (2.182m) (total duas horas de caminhada).

Equipamento necessário: completo de escalada em rocha, jogo de camalots até o “3”, jogo de stoppers, duas cordas de 60m.

A Escalada:

A montanha mais famosa do Grupo Brenta (3.150m) é o Campanile Basso (2.877m), uma belíssima torre de 500m de altura. É preciso ir primeiro até Madona di Campiglio, típica cidadezinha das Dolomitas, eu e o Eiki chegamos lá após duas horas de viagem desde Arco (cidade próxima ao Lago di Garda, sede de um dos mais famosos campeonatos mundiais de escalada).

Na correria da viagem, começamos a caminhada um tanto tarde, às 20 horas, desde o estacionamento do Refugio/Restaurante Vallesinella (1.530m), para chegar a passos rápidos às 22 horas no Refúgio Brentei (2.182m). O espetacular Refúgio estava lotado, mas nosso lugar estava garantido, porque havíamos feito a reserva, algo imprescindível na alta temporada (julho e agosto) (facilmente se encontram os contatos do gestor de qualquer refugio pela Internet).

O ideal era ter chegado ao refúgio ainda de dia, para fazer um reconhecimento do caminho que leva até o início da via de escalada, mas havíamos chegado apenas um dia antes na Itália, e no dia seguinte tínhamos que estar em Trento para encontrar nosso amigo Andriguetto, que não pôde sair do Brasil no mesmo dia que nós. Enfim, não há tempo a perder nas Dolomitas!

Tomamos uma sopa e fomos dormir. Acordamos às 4 da manhã, tomamos o café que já estava preparado para os madrugueiros, no refeitório do refúgio, e encaramos a escuridão com nossas lanternas frontais.

Do Refúgio Brentei continuar pela trilha “318”, rumo a Bocca de Brenta, quando surgir o Campanille Basso à esquerda, abandonar a trilha e seguir até a base da escalada (uma hora desde o refúgio).

 O dia foi logo amanhecendo e às 6 horas estávamos na base do Diedro Fehrmann, prontos para iniciar a escalada.

O Diedro Fehrmann (350m, V) é considerado uma via mítica, uma verdadeira prova de fogo para testar se o escalador está pronto para encarar as longas vias das Dolomitas, e ninguém recomenda que seja feito como a primeira via da temporada, ou mesmo como uma primeira via nas Dolomitas. Vale a pena escalar algo mais simples antes, para se acostumar com a rocha, e até mesmo para entender o estilo de escalada das Dolomitas, com poucos grampos entre as paradas e lances não muito difíceis, mas às vezes bem expostos. Algumas pessoas chamam esse estilo de “escalada de aventura” e é bem o estilo que temos no Marumbi, meu “lar doce lar”, na Serra do Mar do Paraná.

Outra razão de eu optar pelo Diedro Fehrmann, é que pela via Berger-Ampferer (260m, IV +), considerada a Rota Normal do Campanile Basso, fatalmente haveria várias cordadas.

Se você for para as Dolomitas evite as rotas normais, prefira vias um pouco mais difíceis para evitar congestionamentos, perda de tempo e até possíveis acidentes (é comum as cordadas de cima acidentalmente deixarem cair pedras nas cordadas de baixo!!!).

Eu e o Eiki fomos os primeiros a entrar no Diedro Fehrmann, logo dois italianos nos seguiram, e assim continuamos até o final. A via é um espetáculo, o diedro em si é perfeito, 90º, como um livro aberto na vertical, com uns 80 metros de altura, a proteção é praticamente toda em móvel, existem raros grampos de fenda, basicamente nas paradas, que merecem serem melhoradas com algum friend.

Na parte superior existe outro grande diedro, que logo se torna uma chaminé úmida e escorregadia, é preciso sair uns 10 metros para à direita e seguir pelo meio da parede, exposta, V grau, mas é só manter a calma que se acha onde proteger. Após o domínio de um teto vem uma bela travessia à esquerda que leva ao fim do diedro, a via acaba ali, mas ainda faltam 150 metros de altura até o topo, fomos para o lado oposto do Campanile Basso por uma “cengia” (plataforma que vai rodeando a montanha) e continuamos até o cume pela Rota Normal, aonde chegamos após um total de 9 horas de escalada. Algumas fotos rápidas e lá fomos nós para a segunda parte da nossa aventura, a descida.

A descida jamais pode ser subestimada nas Dolomitas, geralmente é bem complexa, com rapéis, misturados com trechos de desescaladas e caminhadas. Tenha sempre um bom croqui da subida, mas não se esqueça de levar também um bom croqui da descida.

Como em toda grande parede, o ideal para escalar é usar duas cordas de 50 a 60 metros, alternando-as nas costuras para diminuir o atrito, e emendando esticões curtos em um só para ganhar tempo – mas durante o rapel nas Dolomitas, vale a pena usar apenas uma corda, fazer rapéis curtos do que longos, pois a corda enrosca facilmente no calcário dolomítico, cheio de pontas.

Dizem que temporais são comuns no final da tarde nas Dolomitas, e comprovamos isso logo em nossa primeira escalada, assim que terminamos os rapéis, começamos a voltar até o refúgio pela famosa Ferrata delle Bochette (ferrata = via equipada com degraus e cabos de aço), e caiu a maior chuva.

Tivemos ainda alguns escorregões ao cruzar grandes manchas de neve, e só chegamos ao refúgio à noite, pouco depois das 20 horas. Jantamos, pegamos as mochilas e caminhamos uma hora e meia ladeira abaixo até o nosso carro, só fomos descansar depois de duas horas de viagem, quando chegamos a um hotel em Trento.