País: Paquistão, fronteira com a China.

Escalada em: 10 de julho de 1999.

Junto com: os italianos Abele Blanc e Cristian Kuntner.

Rota percorrida: Normal.

Dificuldade: D, difícil, como todo Oito Mil.

Tempo estimado: 40 dias.

Época adequada: julho e agosto.

Acesso: de Islamabad, 700 km, dois dias por terra até Skardu.

Aproximação: de Skardu, 112 km em 8 horas de jeep, até a vila de Askole (3.000m). Mais uma semana de caminhada até o acampamento-base (5.000m).

Equipamento necessário: completo de alta montanha.

A Escalada:

Em Concórdia, um importante entroncamento de glaciares a 4.700m, deixamos a visão do K2 à esquerda e ao longe, e seguimos em frente em mais um longo dia de caminhada, para chegar ao acampamento-base do Gasherbrum, o mesmo do Hidden Peak. Na verdade, estas duas grandes montanhas fazem parte de um mesmo maciço chamado de “Gasherbruns”, ao total são setes imponentes picos, sendo que dois deles ultrapassam a barreira dos 8 mil metros. O Hidden Peak é o mais alto, com 8.068m, sendo também chamado de Gasherbrum I, já o Gasherbrum, por ser o segundo mais alto, também é conhecido como Gasherbrum II.

A nossa foi a primeira expedição a chegar aos Gasherbruns, no dia 12 de junho de 1999, assim tivemos a missão de abrir o caminho até o acampamento 1. O perigo consistia em percorrer uma espécie de cascata de gelo, um glaciar repleto de gretas, completamente fraturado, onde grandes fendas surgiam no chão por todos os lados, achar um caminho neste verdadeiro labirinto de gelo não foi fácil, a progressão foi lenta e perigosa. O acampamento 1 está a 5.900m, no centro de um grande anfiteatro, rodeado por todos os Gasherbruns, por isso mesmo, é um acampamento que serve para todos eles, dali poderíamos seguir escalando tanto o Hidden Peak quanto o Gasherbrum.

Optamos primeiro pelo Gasherbrum, com uma escalada um pouco mais simples, mas com a chegada das outras expedições, preferimos nos voltar para o Hidden Peak, onde existiam apenas outros seis coreanos. Nos dias seguintes montamos o acampamento 2, a 6.500m, e entramos no chamado Corredor do Japonês, uma larga canaleta de 600m de altura, com trechos de até 65 graus de inclinação, o trecho mais difícil de toda a escalada. Nós só atingimos o topo deste corredor em nossa terceira investida, sob um vento frio e ameaças de nevascas, o que nos levou a tomar a decisão de montar nosso acampamento 3, a 7.100m, e voltar ao base. Foi o combinado entre todos, e o que fiz com o Pepe imediatamente, mas logo ao iniciarmos a descida, Abele, Cristian e Andrew mudaram de idéia, resolveram ficar no acampamento 3, para tentar finalizar a escalada no dia seguinte. As condições estavam longe de serem as ideais, o tempo estava muito instável, o vento forte e o perigo de uma grande tempestade era evidente. Andrew logo se perdeu devido à falta de visibilidade e voltou para a barraca do acampamento, Abele e Cristian prosseguiram com cuidado e lograram chegar ao cume do Hidden Peak, mas durante a descida foram envolvidos pela noite e quase não encontraram o acampamento 3.

O tempo melhorou somente após uma semana e novamente mudamos os planos, decidimos voltar nossos esforços mais uma vez para o Gasherbrum, enquanto esperávamos uma melhora nas condições da neve do Hidden Peak. Assim, reunindo esforços com as outras expedições, conseguimos chegar ao alto dos 8.035m de altitude do Gasherbrum, no dia 10 de julho. A escalada desta montanha, que em Urdo significa “Montanha da Luz”, foi relativamente tranquila, mas logo após a chegada ao cume, uma grande tempestade nos envolveu, começou a nevar forte e a fazer muito frio. Chegamos de volta aos 7 mil metros do acampamento cansados, e a nevasca continuou por toda a noite. Quase não dormimos, preocupados com o restante da descida e com a possibilidade de alguma avalanche cair sobre a nossa barraca. No dia seguinte o acampamento estava sob um manto de 30 cm de neve, açoitado por rajadas de vento entre 50 e 60 Km/h. O pior era a falta de visibilidade, não conseguíamos ver nada além dos 10 metros, mas era preciso descer, pois aquela tempestade poderia durar vários dias.

A escalada do Gasherbrum me deixou extremamente feliz e satisfeito, afinal havia escalado minha quarta montanha com mais de 8 mil metros de altitude e me sentia preparado para seguir ao K2. Resolvi então desistir da escalada do Hidden Peak, preferindo reservar minhas energias para cumprir o grande objetivo da expedição. Assim me adiantei com o Abele rumo à base do K2, apenas a dois dias de caminhada da base do Gasherbrum, enquanto Pepe tentava finalizar a escalada do Hidden Peak com o australiano Andrew.