País: Chile, fronteira com a Argentina.

Escalada em: 18 de outubro de 2004.

Junto com: em solitário.

Rota percorrida: Normal.

Dificuldade: AD, algo difícil.

Tempo estimado: 4 a 6 dias, após aclimatação prévia.

Época adequada: maio a outubro.

Acesso: da cidade de Antofagasta, através da Mina La Escondida, por estrada até o Refúgio do Parque Nacional Lullaillaco (4.200m).

Equipamento necessário: completo de alta montanha, botas duplas, grampões e piolet.

A Escalada:

Deixamos Antofagasta ao final da tarde seguindo a estrada que leva a La Escondida, a maior mina de cobre do mundo. Até a mina seguimos sem problemas, por um trecho de 143 km de asfalto, mas logo ao anoitecer entramos em estradas de terra e sem perceber fomos passando bem no meio de La Escondida. Foi um grande susto, pois caminhões gigantescos passavam correndo por todos os lados, luzes, fumaça, poeira e muito barulho. Nós só podíamos estar no caminho errado, mas não estávamos, de fato a estrada atravessava bem no meio da maior mina de cobre do mundo.

Passado o susto fomos lentamente nos afastando do caos, de olho grudado no GPS, buscando o desvio que nos levaria ao Parque Nacional Llullaillaco. Graças ao site Andeshandbook conseguimos as coordenadas que nos levariam até lá, bem como o trajeto de toda a escalada.

No outro dia pela manhã, mesmo com as referências do GPS, não foi fácil chegar até um refúgio situado a 4.200m. O principal obstáculo foi encontrar a referência “poste 306” no meio do Salar Punta Negra. Ali a mina La Escondida retira água, e para isso construiu dezenas de estradinhas que vão dar em inúmeros poços artesianos, servidos de eletricidade por centenas de postes. Eram tubulações, linhas de alta tensão, estradinhas e postes para todo o lado.

Mas, enfim, chegamos ao Refúgio Conaf (nome da administradora dos parques nacionais chilenos) sem problemas, e lá não encontramos ninguém, como em nenhum momento em nossa permanência no parque, um deserto total, em todos os sentidos.

No outro dia subimos desde o Refúgio Conaf (4.200m) até o Acampamento Alto (5.600m), enfrentando um vento gelado, preocupados com algumas placas que diziam “perigo, campo minado”. (na época do General Pinochet vários pontos da fronteira foram repletos de minas).

Mal descansamos e a uma da madrugada soa o despertador, Javier reclama de dor de cabeça e diz não estar em condições de prosseguir. Nem discuti com meu amigo boliviano, arrumei logo a minha mochila e saltei para fora da barraca. Brrrrr, se dentro da barraca a temperatura já estava baixa, 9º C negativos, lá fora baixou ainda mais, para 16º C negativos, mas o pior era o vento, muito forte, com rajadas que poderiam estar beirando os 40 km/h, muito gelado.

As 2h da madrugada comecei a subida, procurava seguir as referências, mas era difícil se orientar no meio de uma escuridão total, ainda mais com aquele vento infernal que gelava os ossos. Bem, não só os ossos, logo o GPS estava congelado, o chá de minha garrafa térmica, o protetor solar e meu olho esquerdo que ardia sem parar com aquele vento. Foi quando felizmente começou a amanhecer e tudo ficou literalmente mais claro.

Percebi então que estava muito alto, na base de um pico rochoso, no lado oeste da montanha. Bem abaixo, eu deveria ter pego um corredor à esquerda. Resolvi arriscar, passei uma espécie de rimaya, encarando uma rampa de 45º de cinzas vulcânicas e pedras, até chegar ao alto deste pico escarpado, de onde avistei o cume principal, ao leste, um pouco para o norte. Contornando um grande precipício pela esquerda, seguindo por uma crista com grandes blocos de pedra que exigiram um pouco de escalada em rocha, desescalei até uma brecha, de onde voltei a subir até o cume principal, onde encontrei uma pequena cruz de madeira.

Cheguei sozinho ao cume do Llullaillaco às 10h20, tremendo de frio, pois o vento não deu nenhuma trégua, lá do alto dos seus 6.739m uma vista espetacular sobre os salares de Atacama, Punta Negra, Águas Calientes, Arizaro (lado argentino), para a Mina La Escondida e para os vulcões San Pedro e San Pablo, Lincancabur, Socompa e muitos outros.

Também é notável o local onde em 1999 a National Geographic encontrou três múmias incaicas em perfeito estado de conservação. Desde então o cume do Llullaillaco é considerado o sítio arqueológico mais alto do mundo.

Desci das alturas do Llullaillaco muito feliz e satisfeito, pelo corredor que acabei evitando sem perceber na subida. Passei pelo nosso acampamento alto (5.600m) e com o Javier juntei tudo e continuei a descida até o refúgio Conaf (4.200m), aonde chegamos às 19 horas, completando assim 15 horas de atividade física sem parar, ufa!