Escalada em: 3 de maio de 1997.

Junto com: em solitário.

Rota percorrida: Normal, West Buttress.

Dificuldade: AD, algo difícil, 40º a 50º, muitas gretas.

Tempo estimado: duas a três semanas.

Época adequada: maio e junho.

Acesso: da cidade de Anchorage, por estrada, até a vila de Talkeetna (três horas).

Aproximação: de Talkeetna, de avião, 45 minutos, até o acampamento-base (2.200m).

Equipamento necessário: completo de alta montanha, incluído todo o equipamento técnico. Obrigatório levar rádio VHF para se comunicar com os guarda-parques.

Informações indispensáveis: site do Parque Nacional Denali .

A Escalada:

O Mc Kinley está a 63º de Latitude Norte, praticamente sobre o Círculo Polar Ártico (66º). Com seus 6.194 metros de altitude é a montanha mais alta situada próximo dos pólos e, por esta razão, considerada a mais fria do que qualquer outra do planeta.

O Mc Kinley deixou marcas profundas em minha vida.

Em 1996 fiz a primeira tentativa, uma das experiências mais gratificantes que já tive nas montanhas, mas também uma das mais sofridas. Decidi seguir uma rota chamada West Rib e, quando já estávamos a mais de 6.000m, meu colega alegou que os seus pés estavam congelando, exigindo uma retirada imediata pela West Buttress, uma rota mais fácil e rápida para descer, o que fizemos sem problemas.

Nessa tentativa fiquei três semanas na montanha, durante esse período o tempo estava tão ruim que o saldo trágico foi cinco mortes e um dos ambientes mais tensos que já enfrentei. Por tudo isso, na minha segunda tentativa, em 1997, resolvi voltar ao Mc Kinley sozinho e mais cedo, enfrentando diretamente a West Buttress, a chamada Rota Normal.

A logística para se escalar a maior montanha da América do Norte exige um excelente planejamento. Desde Anchorage, Alasca, é preciso viajar cerca de três horas de carro até a vila de Talkeetna, de onde um pequeno avião Cessna leva cerca de quarenta e cinco minutos para se aproximar da montanha.

O vôo é espetacular, as asas do avião parecem tocar as encostas escarpadas das montanhas, levando os alpinistas a se envolverem cada vez mais em um ambiente selvagem. Quando chega a hora do pouso o piloto começa a mover uma alavanca central, que parece o freio de mão de um carro – assim os esquis calçam a roda – e o frio na barriga aumenta.

O avião vai se alinhando com o glaciar, até os esquis escorregarem na neve, quando começa a soar uma sirene nos dando um grande susto. O coração vem parar na garganta! Depois do vôo emocionante, é iniciado um percurso de 20 km pelas encostas do McKinley, a partir dos 2.200 metros de altitude.

Equipado com esquis, para evitar o afundamento na neve e deixar a progressão bem mais rápida e segura, fui puxando um trenó de 30 kg que estava preso na minha cintura. Neste trenó estava toda a comida, o combustível para o fogareiro e a parte do equipamento mais pesado; nas costas ainda levava uma mochila com outros 20 Kg. O trenó é bem simples, de plástico, e gentilmente é emprestado aos expedicionários pelo próprio Parque Nacional, logo que se aterrissa no acampamento-base.

O tempo nos primeiros dias não estava bom, o vento soprou forte, sempre seguido de uma fina nevasca. Num dos dias foi possível avançar apenas por uma hora, pois fui envolvido pelo “white out”, um fenômeno natural causado pelo repentino abaixamento das nuvens, a visibilidade se reduziu a menos de dez metros.

Em 1997, cheguei a Talkeetna no dia 26 de abril e 1.004 alpinistas já estavam registrados para enfrentar a montanha, segundo a direção do Parque Nacional Denali (nome nativo da montanha e que significa “o mais alto”). Como a época mais aconselhada para a escalada é durante os meses de maio e junho, apenas 26 alpinistas haviam iniciado a escalada, sendo que 14 deles já haviam desistido.

Enfrentar o Mc Kinley no final de abril e início de maio obriga o alpinista a suportar um frio mais intenso, que pode chegar até os 25 graus negativos à noite, mas é justamente o período quando o tempo é mais estável. Em plena temporada de escalada (maio e junho) a temperatura é mais amena, mas são freqüentes as tempestades de neve. A partir de julho faz muito calor, as gretas estão muito abertas, tornando a escalada muito perigosa e até impossível.

No sexto dia da escalada eu já estava a 5.200 metros de altitude e na frente de todos os outros alpinistas. A meteorologia previa mau tempo e ventos fortes nas elevadas altitudes, a informação era enviada pelos guarda-parques via rádio.

Mesmo assim resolvi fazer o ataque ao cume e, às 14h25m do dia 3 de maio de 1997, acabei me tornando o primeiro alpinista da temporada a conseguir escalar o Mc Kinley. Uma bela e emocionante escalada em solitário, seguindo puramente o meu instinto, já que caminho ainda não estava marcado sobre o glaciar. Os momentos mais intensos foram justamente nos metros finais, quando a montanha se transformou numa estreita crista, suspensa entre abismos de mais de 300 metros de altura. Como eu estava sozinho e sem corda, um passo em falso poderia ser fatal.

Dois dias depois eu já estava novamente em Talkeetna.