Na véspera do Carnaval estacionei o caminhão Andino em Curitiba após dirigir 5 mil quilômetros desde Cochrane, sul do Chile. Foi difícil dar as costas para as montanhas da Patagônia e rumar para o Brasil. A pampa argentina parecia interminável, o tráfego das estradas insuportável, e o caos urbano das grandes cidades me fazendo perguntar: como conseguimos viver assim?

A resposta pode não ser simples, mas necessária: temos que seguir em frente, seguir os nossos sonhos custe o que custar, para que a vida realmente valha a pena!

Lembro que em janeiro de 2004 eu estava lá em Cochrane com o Andino e um “dream team”, realizando a primeira expedição do Projeto Mundo Andino. Fazia praticamente um mês que eu não dormia, ansioso para que tudo desse certo, mas deu tudo errado. Logo na primeira montanha – o San Lorenzo – levamos uma surra do rigoroso clima patagônico, ventos enfurecidos, chuva gelada e muita neve. Depois até conseguimos escalar o San Valentin, a maior montanha da Patagônia, mas a viagem chegou inesperadamente ao fim com um dramático acidente, quando um bote inflável naufragou em nossa retirada da montanha, exigindo o resgate da equipe de helicóptero. O “time dos sonhos” esfacelou-se, cada um seguiu o seu caminho. O Projeto Mundo Andino encalhou por falta de dinheiro.

Exatamente onze anos depois, volto ao mesmo cenário. Na bagagem todos aqueles ensinamentos que somente as piores situações nos trazem, mas principalmente aquela vontade irrefreável de realizar um sonho grande, complexo, difícil. Ver o Andino novamente na estrada já foi uma grande satisfação, mas muito maior foi a convicção que levar adiante o Projeto Mundo Andino é fundamental para a minha vida.

O clima da Patagônia continua indomável, mas mesmo enfrentando chuva e vento gelado, tivemos uma experiência fascinante no Campo de Gelo Norte ao tentarmos abrir uma nova via de escalada no Arenales (3.365m), situado no lado oposto do San Valentin. A rota está traçada, faltou apenas chegar ao cume. Fomos rechaçados pelo vento e pela previsão meteorológica que prometia uma quantidade de neve exagerada.

Depois foi a vez do reencontro com o majestoso San Lorenzo (3.706m, a segunda maior montanha da Patagônia), mitificado pelo padre italiano De Agostini, missionário, explorador, fotógrafo e escritor, que viveu praticamente 50 anos na Patagônia e, em 1943, quando tinha 60 anos, realizou o maior feito da sua carreira de alpinista ao conquistar o cume do San Lorenzo.

Fica difícil resumir em palavras tudo o que aconteceu nesta “segunda” Expedição Patagônia Chilena, foram 46 dias de viagem, 10.600Km rodados com o Andino… e certamente haverá uma “terceira”, uma “quarta” ou mais expedições à Patagônia Chilena, até eu realizar o meu grande sonho de conhecer cada um dos importantes grupos de montanhas da Cordilheira dos Andes.

Deixo então algumas fotografias, que traduzem melhor a minha paixão pela beleza das montanhas e quanto o Projeto Mundo Andino* é grandioso, complexo e difícil de se realizar.

Nesta expedição tivemos o apoio da Itaipu Binacional, a qual agradeço imensamente. Para voltar em breve ao Mundo Andino, sigo em busca de patrocínio, realizando palestras e vendendo o livro “O Brasil no Topo do Mundo”, agradecendo de antemão a todas as empresas que puderem ajudar – na semana de Carnaval já fiz palestra em Joinville (Döhler), nesta semana estarei em São Paulo (BNY Mellon) e João Pessoa (Unimed).

Vá em busca de novos desafios, não deixe de lado os seus sonhos, enfrente-os!

Namastê!

Waldemar Niclevicz

 *O Projeto Mundo Andino tem como objetivo traçar um perfil físico e humano da cordilheira mais extensa da Terra, através da escalada de suas principais montanhas, com a missão de “Promover o desenvolvimento sustentável entre o homem e o meio ambiente nas montanhas da Cordilheira dos Andes”.