Escalada em: fevereiro de 2011.

Junto com: Edmilson Padilha, José Luiz Hartmann, Sérgio Tartati, Valdesir Machado e Alfredo Rangel (venezuelano).

Dificuldade: 1.100m, 8a (brasileiro, 7a+ francês) A4.

Tempo estimado: 3 a 4 semanas.

Época adequada: janeiro e fevereiro.

Acesso: de Caracas, por estrada até Ciudad Bolivar.

Aproximação: de Ciudad Bolivar, de avião até o Parque Nacional Canaima, depois em três dias de navegação pelos rios até o acampamento-base (Isla Raton).

Equipamento necessário: completo de escalada em rocha, 3 jogos de camalots (do 0.5 ao 6), 3 jogos de stoppers, 150 mosquetões, pítons variados, ganchos, cliffs, etc. Porta ledge.

A Escalada:

O Salto Angel, com 979 metros de altura, dos quais 807 metros em queda livre, é a cachoeira mais alta do mundo, e possui o maior paredão com inclinação negativa da Terra.

Foram 17 dias de escalada, 4 dias para equipar os primeiros 370 metros da parede, e outros 13 dias literalmente pendurados no vazio para se chegar ao alto do Auyantepuy, de onde se precipitam as águas do Salto Angel.

Montamos três acampamentos suspensos, o primeiro a 370m, o segundo a 540m, e o terceiro a 670 metros de altura da base da parede, que está a cerca de 980m de altitude, as águas da cachoeira se precipitam ainda por cerca de cem metros abaixo, à direita da base. O topo do paredão, local onde finalizamos a nossa escalada, se encontra a 1.880m de altitude.

Para a escalada e nossa sobrevivência na parede, levamos cerca de 500 Kg (220 litros de água, 1.180 metros de cordas, comida para seis pessoas para 15 dias, 2 porta ledges duplos, 3 fogareiros, 15 cartuchos de gás, 3 jogos de camalots (do 0.5 ao 6), 3 jogos de stoppers, 150 mosquetões, pítons variados, ganchos, cliffs, etc.

A escalada do Salto Angel foi feita tendo como referência os croquis das expedições anteriores (espanhola, de 1990, inglesa, de 2005, e francesa, de 2006), seguiu-se o sistema ou linha lógica que se desenvolve do lado esquerdo da cachoeira, com algumas variantes em relação às ascensões anteriores, a maior delas, que chamamos “variante brasileira” deu-se após nosso acampamento 3 da parede (chamado de acampamento 5 pelas outras expedições), quando fizemos uma travessia horizontal à direita (35m) e depois continuamos por um lindíssimo diedro, que apelidamos de “Diedro Brasileiro”, com um belo esticão de 55m, que evitou dois esticões considerados pelo francês Arnaud Petit (campeão mundial de escalada) em “7b+ hyper expo” e “7b très expo” (8c e 8b na escala brasileira). A escalada foi realizada em livre em lances de até 8a e lances em artificial em até A4, segundo o grau de dificuldade adotado no Brasil.

Na parede, tivemos a simpática companhia do Yupi (Alfredo Rangel), escalador venezuelano com muita experiência em escalada nos tepuyes, que nos deu importantes dicas de como progredir na delicada rocha do Salto Angel. Outra agradável companhia que tivemos na equipe foi a do gaúcho Orlei Junior, que ficou nos fotografando e filmando da base.

O grande problema que enfrentamos diariamente na escalada foi a rocha decomposta e abrasiva, era extremamente difícil contar com proteções confiáveis, tudo estava meio solto. Eram frequentes lances expostos, com possibilidade real de queda e proteção duvidosa ou impossível. Qualquer descuido com o atrito das cordas nos cantos afiados da rocha era potencialmente perigoso, o uso de protetores para corda foi fundamental. Nos trechos mais difíceis nossa progressão diária não passava de dois esticões de 25 ou 30 metros cada. No penúltimo dia, progredimos apenas 30 metros em um A4 aterrorizante, que contava no croqui de Arnaud Petit como um 7b+ obrigatório (8c na graduação brasileira).

Todo o esforço era recompensado pelo cenário do local, o fantástico véu do Salto Angel ao nosso lado, de dia ornado com múltiplos arco-íris, de noite flutuando na escuridão iluminado pelas estrelas e mais tarde pela lua cheia. A densa floresta lá embaixo e o visual de outros tepuyes davam ainda mais encantamento a todo aquele ambiente.

Pena que na conclusão da escalada começou a chover, o Salto Angel deve ter triplicado o seu volume de água. Às vezes mal conseguíamos ver o colega escalando logo acima, em razão da forte neblina e da cortina de água das pequenas cachoeiras que iam surgindo ao lado da queda principal. No cume descansamos um dia e também não tivemos uma boa vista, o mesmo acontecendo durante o rapel, que foi feito por uma via equipada bem mais à esquerda da cachoeira, fora da abóboda.

Ao chegar ao alto do Salto Angel fizemos uma homenagem especial: dedicamos a nossa escalada em memória do nosso querido companheiro de montanha Bernardo Collares, que apenas um mês antes havia perdido a vida durante a escalada do Fitz Roy, na Patagônia argentina.

Mais detalhes no “Salto Angel 2011”, em Expedições.