Escalada em: 14 de maio de 1998.

Junto com: os italianos Abele Blanc e Marco Camandona.

Rota percorrida: Normal com “Travessia Messner”.

Dificuldade: D, difícil, como todo Oito Mil.

Tempo estimado: 40 dias.

Época adequada: abril e maio.

Acesso: de Kathmandu, por terra, dois dias até o acampamento-base (5.000m).

Aproximação: do acampamento-base, um dia de caminhada até o acampamento-base avançado (5.700m).

Equipamento necessário: completo de alta montanha.

A Escalada:

Depois do trekking até o alto do Pico Gokyo, voltei para Kathmandu e fui recebido por Abele Blanc, que acabava de chegar da Itália com Marco Camandonna, seguimos então para o Tibete através da rodovia que liga Kathmandu a Lhasa, deixando para trás os verdejantes vales internos do Nepal para logo atingir o árido altiplano tibetano.

Quando se ingressa no Tibete não se perde apenas o verde da paisagem, se perde também o colorido das multidões, a profusão de vida pelas ruas das cidades e a alegria de viver de um povo pobre, mas feliz. Meu primeiro receio ao entrar naquela terra marcada pelo sofrimento do seu povo, foi o de encontrar os militares chineses, que inventavam a cada momento todos os motivos para tirar dos nossos bolsos os poucos dólares que restavam. Assim pagamos propina para passar na alfândega, para conseguir o jeep e o caminhão (que já haviam sido pago), bem como para pagar uma série de taxas que não existiam, mas que nos eram cobradas por militares verdes de apenas metro e meio, cheio de estrelas vermelhas nos ombros.

Quanto mais ingressávamos no Tibete, mais víamos a tristeza nos olhos dos tibetanos e mais ficávamos indignados com a violência dos chineses, que invadiram o Tibete a partir de 1949, praticamente exterminando uma das culturas mais refinadas da terra. Foi assim, relembrando a invasão chinesa, a fuga do Dalai Lama para o exílio, que cruzamos de jeep a desoladora paisagem de um verdadeiro deserto de altitude, para chegar aos 5 mil metros, no acampamento-base do Shisha Pangma, o primeiro desafio do Projeto K2.

O Shisha Pangma, com 8.046m de altitude, é a décima terceira maior montanha do mundo, situada no sul do Tibete, apenas a 5 km da fronteira com o Nepal. O início da escalada, de fato, está no acampamento-base avançado, a 27 km de distância e a 700 metros acima de onde o jeep nos deixou. Para chegar até lá, Marco, Abele e eu caminhamos 10 horas em um único dia, acompanhado pelos iaques ou bois tibetanos, que levaram toda a nossa carga.

Encontramos várias expedições no acampamento-base avançado, ingleses, espanhóis, coreanos e italianos, que esperavam o tempo melhorar para retomar a escalada. Enquanto fomos nos instalando, descobri entre os outros alpinistas dois antigos amigos, Pepe Garces da Espanha, que havia conhecido em minha primeira tentativa ao Everest, em 1991, e Cristian Kuntner da Itália, que também havia conhecido no Everest, mas em 1995. Tanto Pepe como Cristian, já haviam montado o acampamento 1, a 6.100m, mas ainda ninguém havia conseguido chegar até o local do acampamento 2, a 7.000m.

O mau tempo que estava castigando as expedições acabou nos afetando também, nos obrigando a fazer três investidas para ter condições de fazer o ataque final. Na primeira investida montamos o acampamento 1. Na segunda investida fomos surpreendidos por uma violenta tempestade e também não conseguimos superar a altitude do acampamento 1. Na terceira investida montamos o acampamento 2 e descemos novamente ao base avançado, quase sem nenhuma visibilidade. Dias antes Pepe Garces havia atingido o cume central, de 8.008m, e Cristian o cume principal, de 8.046m, tornando-se com o seu companheiro Marco Bianchi os primeiros alpinistas da temporada a escalar o verdadeiro cume do Shisha Pangma (são muitos os alpinistas que vão apenas até o cume central ou secundário, pois chegar ao cume principal é mais difícil e distante).

Abele, Marco e eu chegamos ao cume principal do Shisha Pangma no dia 14 de maio de 1998, evitando o cume secundário, seguindo uma rota de ascensão mais lógica criada anos atrás por Messner.

Para mim, a escalada do Shisha Pangma teve um significado muito especial, foi minha segunda montanha com mais de oito mil metros e aconteceu exatamente três anos após a minha escalada do Everest. Portanto, motivos para comemoração não faltavam, mas era bom lembrar que a nossa expedição estava apenas começando e que tínhamos ainda muita montanha pela frente. Assim descemos rápido da décima terceira maior montanha do mundo e seguimos diretamente para o Cho Oyo.