Os últimos meses passaram voando e a sensação da importância de cada um de nossos dias se tornou mais evidente, não apenas porque finalizei o projeto “Quatro Mil dos Alpes”, mas porque iniciei um outro, sem dúvida o mais importante da minha vida, que é implementar uma Reserva Natural.

Escalar montanhas para mim passou a ser uma profissão há mais de 36 anos, encarada com seriedade e disciplina, desde a primeira escalada do Aconcágua, no dia 18 de fevereiro de 1988.

Sim, faz parte do alpinismo a coragem, a determinação, a superação, pois inevitavelmente a montanha leva à prova a nossa capacidade física e técnica. Mas é preciso ir além, não basta ter raça e disposição, é preciso ser racional e entender que o planejamento, a preparação, uma boa estratégia e um bom plano de ação, é o que vai nos levar ao sucesso!

Completar a escalada de todos os 82 picos dos Alpes com mais de 4 mil metros de altitude foi muito mais exigente do que eu achava! Eu sabia que não seria fácil, mas a pandemia e a crise climática deixaram o desafio ainda maior, e exigiram uma nova abordagem, uma ida aos Alpes no início da primavera, em abril, enquanto o normal seria ir em pleno verão, em julho e agosto.

De fato, em pleno verão os dias são espetaculares, mas sabemos que tem feito mais calor mais do que o normal, e não só no verão. O último inverno nos Alpes foi o mais quente e seco de toda a história, segundo os registros do MeteoSwiss. O inverno teve cara de primavera, fevereiro e março tiveram dias de pleno sol e nenhuma precipitação.

Então eu cheguei nos Alpes e a primavera passou a ter cara de inverno, nevou mais de um metro e meio nas montanhas. Na primeira semana de abril nevou quase todos os dias.
Mas na semana da Páscoa veio uma trégua, cinco dias de tempo bom, que aproveitamos para escalar o Les Droites (4.000m), a Aiguille Verte (4.122m) e o Grande Rocheuse (4.102m), faltou então apenas UM Quatro Mil para ser escalado!

No dia que deixamos as montanhas de Chamonix (França), domingo de Páscoa, eu voltei para o meu acampamento-base, um pequeno hotel no Vale d’Aosta (Itália), e naquela noite começou a chover. Na segunda-feira vi que os topos das montanhas amanheceram brancos de neve, nas altitudes mais baixas choveu dois dias, e na quarta, acreditando na previsão do tempo, corremos novamente para as montanhas, e, por fim, escalamos a Aiguille du Jardin (4.035m) na quinta-feira, feriado de Tiradentes, o que representou a entrada do Brasil no seleto clube dos países que completaram a escalada de todos os 82 Quatro Mil dos Alpes, algo que só tinha acontecido até então com países europeus e com apenas 51 alpinistas!

Para mim, sem dúvida, foi o projeto mais importante da minha carreira de alpinista, em razão da beleza e imponência das montanhas, e do caráter histórico-cultural, pois cada Quatro Mil representa uma página da história do alpinismo mundial, que começou oficialmente como esporte com a escalada do Mont Blanc, em 1786.

Meus sinceros agradecimentos a Audi do Brasil pelo patrocínio do projeto Quatro Mil dos Alpes! Estivemos juntos desde o início, em 2018, e apesar da pandemia continuamos juntos até a sua conclusão, em 2022!

Também agradeço imensamente ao Vini Todero e ao Marcos Nepomuceno Costa, sem eles seria impossível a realização das escaladas em abril. Dois grandes alpinistas brasileiros que moram na Suíça, e que deram à conclusão do projeto um sabor verde-amarelo a mais!

Retornei ao Brasil no início de maio, nem bem consegui noticiar na mídia o grande feito, e minhas atenções logo se voltaram para a implementação da Reserva Natural do Alpinista ou RNAWN. As obras já tinham começado, o plantio de araucárias e a criação de abelhas também, tudo exigindo muita atenção, pois obstáculos não faltaram.

Desde o início da ideia de implementar uma Reserva Natural, descobri que ser empreendedor ambiental no Brasil é algo extremamente difícil e desafiador, é preciso ter de fato um ideal ambientalista para não desanimar!

Mas, como já disse no início, temos que seguir o nosso propósito e fazer acontecer!
O objetivo é restaurar uma área degradada de 113 hectares com o plantio de araucárias e outras espécies nativas, garantindo a polinização da floresta com a criação de abelhas com e sem ferrão, e focar na educação ambiental, como forma de gerar uma consciência preservacionista, principalmente nas crianças.

Geograficamente, estamos em um triângulo, na junção dos rios Açungui e Palmital (continuação do rio do Matos), que formam um grande corredor ecológico as margens da Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana, na localidade de Itambézinho, município de Campo Largo, próximo a Curitiba.

As obras da sede foram concluídas em dezembro de 2023, está pronta a Casa do Mel (Unidade de Beneficiamento de Mel, já estamos produzindo mel orgânico da melhor qualidade), e foi finalizada a Casa de Trabalho (sala de aula, amplo espaço para eventos, alojamento para pesquisadores, marcenaria, cozinha, refeitório e depósitos).

Estamos construindo um viveiro de mudas nativas e já plantamos mais de mil árvores que estão na lista de espécies em perigo de extinção, entre elas perobas, sassafrás, cedros, ipês, angicos e centenas de araucárias (dentre elas 350 enxertadas visando a produção precoce de pinhão).

Já fizemos o georreferenciamento e esperamos a resolução de algumas exigências burocráticas para finalizar a retificação de nossas matrículas.

Até o momento estou investindo apenas recursos próprios, mas como é tudo muito oneroso, precisamos de patrocinadores e parcerias.

Precisamos de recursos para o diagnóstico da fauna e da flora, zoneamento da área e respectivo Plano de Manejo.

Agradecemos o importante apoio de algumas empresas e amigos que nos doaram 250 mudas de araucárias enxertadas. Cada uma delas custa R$ 150,00.

Conto com a sua ajuda, indique o nosso projeto de RPPN para uma empresa ou pessoa que possa se juntar a nossa causa de restaurar um importante remanescente da Floresta com Araucária.

Que a Reserva Natural do Alpinista seja um grande legado para as futuras gerações! Muito obrigado!