Escalada em: 21 de setembro de 1997.

Junto com: em solitário.

Rota percorrida: Normal.

Dificuldade: V grau em rocha.

Tempo estimado: uma a duas semanas.

Época adequada: agosto e setembro.

Acesso: da cidade de Jakarta, 6 horas de vôo até Timika (Irian Jaya).

Aproximação: de Timika, de carro até Tembagapura e de hellicóptero até o Yellow Valley (4.250m).

Equipamento necessário: completo de escalada em rocha.

A Escalada:

O Carstensz está situado no centro do Irian Jaya, parte indonésia e ocidental da Ilha de Nova Guiné, em uma das regiões mais desconhecidas e misteriosas do planeta, habitada por tribos papuas.

Chegar ao cume da maior montanha da Oceania e assim vencer o Desafio dos Sete Cumes foi complicado, não tanto pelas dificuldades técnicas que a montanha oferece, mas pelo Carstensz estar situado em uma região de forte instabilidade política, com a presença de guerrilheiros que lutam pela independência. A maior dificuldade foi conseguir a possibilidade de ter acesso a montanha, porque na época era impossível conseguir uma permissão oficial do governo da Indonésia.

O Carstensz é a única montanha dos Sete Cumes com uma escalada exclusiva em rocha. Existe um pequeno glaciar em sua face sul, que está mais protegida do sol, mas a escalada que fiz foi pela sua face norte, uma parede imponente de rocha, com 700m de altura. A escalada é de média dificuldade, um quarto grau, segundo a escalada que se usa no Brasil. Existe apenas um lance de quinto grau, cerca de 15 metros de altura, já na crista que leva ao cume.

Há muitos interesses econômicos em Irian Jaya, onde se encontra a segunda maior floresta tropical do mundo. O próprio Carstensz está a menos de 5 km da maior reserva de ouro, e a terceira de cobre, que se tem conhecimento no mundo. Assim mesmo a população nativa da ilha é muito pobre e vive num estágio bastante primitivo.

Desde novembro de 1995, nenhum alpinista havia obtido permissão para escalar o Carstensz, quando uma expedição de oito alpinistas foi massacrada por tropas rebeldes. Meses antes, outros 15 alpinistas foram sequestrados por guerrilheiros, dois deles foram mortos.

Só consegui a permissão para a escalada graças a uma complicada operação logística, diplomática e militar. Durante todo o tempo em que permaneci em Irian Jaya, estive acompanhado por seis soldados das forças especiais do Exército da Indonésia, fortemente armados, e por um intérprete.

Como era perigoso chegar até o Carstensz caminhando, devido a presença dos guerrilheiros, fui deixado por um helicóptero a 4.250m de altitude, no Yellow Valley. Minha barraca estava apenas a 200 metros do início da escalada.

No dia 21 de setembro de 1997, a partir das 5h00, fui superando com firmeza o início da grande parede de 700m de altura. A rocha áspera e sólida me dava cada vez mais confiança.

Às 7h30 já estava a 4.700m, na afiada crista que me levaria ao cume. Até então, havia superado trechos de escalada em rocha no mais puro estilo solo (sem o uso de corda). Mas subitamente a crista se interrompeu, surgindo na minha frente uma falha de uns 15m de profundidade. Havia lido que era preciso fazer um rapel nesse trecho, mas não foi preciso, desescalei com cuidado até o fundo da falha ou brecha.

Tirei então a corda da minha mochila para fazer uma auto-segurança. O passo mais difícil seria ganhar novamente o alto da crista, numa passagem delicada, que me deixou suspenso em um abismo de 300m, seguro apenas pelas mãos entaladas em uma fenda. Superar este trecho representava o sucesso da escalada. Quando consegui, comemorei muito, ainda mais por estar absolutamente sozinho. Deixei a corda ali mesmo, somente seria útil na volta.

Levei ainda mais uma hora para chegar ao ponto mais alto, superando trechos aéreos, pois o Carstensz se alça às alturas cada vez mais escarpado e estreito.

Às 9h15 fiquei emocionado ao perceber que estava suspenso a 4.884m de altitude, no ponto mais alto entre a Cordilheira dos Andes e o Himalaia, no teto da Oceania, tornando o Brasil o primeiro país da América do Sul a conquistar o Sete Cumes do Mundo.