Escalada em: 20 de agosto de 2004.

Junto com: o boliviano Javier Carvallo Contreras.

Rota percorrida: variante à esquerda da rota do Esporão Sudeste, juntando-se acima com a Crista Sudeste

Dificuldade: D, difícil, 70º.

Tempo estimado: 5 a 7 dias, após aclimatação prévia.

Época adequada: maio a setembro.

Acesso: de La Paz, por estrada, até a localidade de Vinohuara (4.568m).

Aproximação: de Vinohuara, caminhada de 6 horas até a Laguna Leche Khota (4.500m, acampamento-base).

Equipamento necessário: completo de alta montanha e escalada em gelo.

A Escalada:

Quando chegamos a Laguna Leche Khota (4.500m) e montamos nosso acampamento-base, as nuvens nos envolveram e pareciam que não iriam embora. Choveu bastante e depois nevou 14 horas sem parar. Ficamos um dia esperando a forte neblina passar.

Eu já havia estado ali em 2002, mas não tinha conseguido finalizar a escalada, justamente em razão do mau tempo, a neblina e a neve nos impediram de encontrar o verdadeiro caminho.

Em 2004, quando o tempo melhorou, eu e o Javier, que também nunca havia escalado o Chachacomani, deixamos o acampamento-base com a esperança de conseguir chegar até o glaciar superior. Apostei na minha intuição e deu certo, entramos até o fim do vale e já com a neblina começando a nos envolver, conseguimos visualizar à esquerda e lá no alto a passagem em forma de um colo nevado no meio do paredão.

Abaixo e à esquerda desse colo, próximo a uma parede de rocha, montamos o nosso acampamento alto a 5.500m de altitude. Logo subimos o colo para fazer um reconhecimento da rota de escalada. O que descobrimos foi muita neve onde nos afundamos até o joelho. Voltamos para o acampamento preocupados.

Na madrugada seguinte, às 4h15, voltamos a subir, com a esperança de encontrar menos neve na parede acima do colo, mas infelizmente ela também estava carregada de neve e o risco de avalanches era grande. Depois de cada esticão vertical pela neve, era preciso fazer outro em diagonal à esquerda, contornando a rocha. Somente conseguimos superar a parede e chegar à crista final do cume às 13h00, sem descansar um minuto, escalando trechos constantes de 60º de inclinação, sempre contornando pela esquerda os trechos de rocha.

No alto da crista descansamos um pouco para aliviar o stress, Javier já não queria mais continuar, mas acabou cedendo aos meus apelos, afinal faltavam apenas 170 metros de desnível.

Lá fomos nós com as últimas esperanças, rezando para não encontrar nenhum obstáculo intransponível. Depois de 40 minutos topamos com uma gigantesca greta que cortava toda a montanha, com cerca de 5 metros de largura e nenhuma ponte que nos inspirasse confiança. Como que “pisando em ovos”, consegui passar pela sua esquerda, e logo tive que superar uns 15 metros de 70º para voltar à crista indo para à direita.

O cume estava bem na nossa frente, mas mais uma greta interrompia o caminho, menos larga, mas também com um salto vertical do outro lado. Fui avançando sem parar e logo estava vibrando na parte de cima, faltavam poucos metros.

Quando a ponta do cume já surgia na altura do meu peito senti a corda me puxar com força para baixo, era o Javier que havia caído dentro da última greta. A corda não se afrouxava, então eu a fixei com uma estaca, e com a segurança de um prussik fui descendo. Javier estava no ar, pendurado bem no meio da greta, não conseguia nem subir, nem descer. Meu amigo boliviano, exausto, disse que me esperaria ali mesmo.

Voltei a subir os 50 metros. Com a ajuda de outra estaca passei a ancoragem um pouco para baixo, e fui deixando escorregar a corda, até que senti o peso aliviar, Javier poderia então descansar. Fui então até o cume e desfrutei por poucos minutos a sensação de vitória, eram 14h45.

A descida foi das mais traiçoeiras, desescalamos até o alto da parede e depois fizemos uma série de rapéis, o último já no escuro. Chegamos ao acampamento alto às 21h00, e continuamos descendo para o acampamento-base, aonde chegamos às 3 da madrugada no meio de uma forte nevasca, completando 23 horas de intensa atividade.