Quase não estou conseguindo conter minha felicidade, ao saber que estou prestes a partir novamente para os Alpes, o berço do Alpinismo mundial.

A razão para tanta felicidade é uma soma de vários fatores, mas principalmente porque ano passado eu estava prestes a realizar um dos meus maiores sonhos, escalar todos os 82 Quatro Mil dos Alpes, e tive um acidente, machucando a panturrilha com o grampão, que virou uma séria infecção (celulite infecciosa), o que me obrigou a tomar antibióticos (sempre dois tipos) por três meses, e sofrer uma cirurgia bastante invasiva na que me deixou muito assustado!

A cirurgia foi dia 25 de setembro, como eu poderia esquecer! E desde então vim fazendo minhas orações e um trabalho de recuperação para retomar o movimento e a funcionalidade da minha perna. Imagino a aflição de cada um que sofra algum acidente que prejudique a mobilidade, mas esta aflição é muito maior entre nós atletas, que temos nosso corpo como um templo sagrado, e seria uma amargura infinita se eu não conseguisse ter condições de voltar para as montanhas.

Mas depois de sete meses vejo a minha perna 100% recuperada, estou em uma das minha melhores formas, escalando normalmente e voltando para os Alpes, no próximo dia 12 de junho, para completar a escalada de todas as montanhas dos Alpes com mais de quatro mil metros de altitude.

A segunda razão para tanta felicidade, é que o projeto Quatro Mil dos Alpes acabou sensibilizando amigos e, de forma natural, fomos formando uma equipe forte e determinada de experientes escaladores. Ano passado, das 37 montanhas superadas, 20 delas escalei completamente sozinho, o que até pode ser uma interessante experiência introspectiva, mas escalar com amigos é muito mais seguro, divertido e gratificante!

O primeiro amigo a se juntar ao desafio dos Quatro Mil foi o chileno Raul Barros, parceiro na escalada do Vulcão Puntiagudo, que por motivos familiares teve que desistir dos Alpes ano passado as vésperas da expedição. Logo o Rogério de Oliveira e o Márcio Hoepers, parceiros de escaladas do Marumbi, se juntaram à equipe, contagiando rapidamente o José Luiz Hartmann, conhecido por todos como Chiquinho, colega de expedição da Trango Tower e do Salto Angel. E por fim o Irivan Burda, que já esteve comigo no alto de tantas montanhas, como o Lhotse, o Makalu e o Everest. Todos são excelentes escaladores, mas o que me deixa realmente satisfeito é que vou ter ao meu lado verdadeiros amigos, para compartilhar a beleza e a satisfação de realizar algumas das escaladas mais lindas do mundo, afinal os Alpes são realmente impressionantes!

As razões para a minha felicidade continuam, descobri faz tempo que às vezes estas razões estão muito mais perto da gente do que imaginamos! Mas gostaria de mencionar e agradecer a dedicação especial da Cristina Sotto Maior, minha querida fisioterapeuta, em minha recuperação. Também faço questão de agradecer a Audi Brasil, única empresa brasileira que está apoiando o projeto, como aconteceu o ano passado, e novamente vai patrocinar o carro, aliás, um belo e formidável automóvel, para nos deslocarmos com toda a segurança e tecnologia durante os próximos três meses pelos Alpes!

Não posso deixar de mencionar um fato que deixou o mundo consternado no último mês de maio, que acabou com um recorde de 891 pessoas no cume do Everest, ao custo de 11 mortes, 9 delas durante a descida. Mortes que poderiam ter sido evitadas, pois não foram provocadas por nenhum acidente e sim por exaustão, devido a falta de preparo e experiência dos supostos alpinistas, muitos deles simples turistas. Chegar ao cume de uma montanha a qualquer custo, com o uso excessivo de garrafas de oxigênio, apoio massivo de sherpas, rotas equipadas com cordas fixas e uso constante de helicópteros não é alpinismo.

Eu estive no Everest em abril, guiando um grupo até o acampamento-base, e pude ver um pouco da confusão do que hoje representa a sua escalada. Apesar de tudo, o lugar continua maravilhoso, fiquei muito feliz em rever amigos e muitas das montanhas mais impressionantes que conheço, espero continuar levando grupos para lá em abril/maio e setembro/outubro, viagem “rápida”, 12 dias, voltando do Everest para Kathmandu de helicóptero.

Quero trazer outra notícia do Nepal que é motivo para nos deixar orgulhosos e felizes: “nossa” escola completa 10 anos de existência! Sim, “nossa”, pois existe uma escola “brasileira” no Nepal, para crianças que são resgatadas da prostituição e do tráfico infantil. Fruto de um lindo trabalho que foi iniciado pelo Pastor Silvio Silva e sua equipe em 2000, e que hoje está sendo conduzido pelas primeiras meninas que ele mesmo resgatou e acolheu em sua casa com a Rosmari, sua esposa.

Não deixe de ver este vídeo “Dez Anos da Escola do Nepal” e conhecer um árduo trabalho altruísta, que já fez centenas de crianças nepalesas recuperarem a sua dignidade e a esperança de simplesmente viver. Sim, um trabalho feito por Brasileiros! Você também pode ajudar, acesse Meninas do Nepal.

As fotos deste post são todas da caminhada até o acampamento-base do Everest realizada este ano, foi uma bela experiência com um grupo de amigos de Florianópolis, que me deixou ainda mais inspirado para sempre retornar ao Nepal. A ideia é levar grupos fechados, com o máximo de conforto e o mais rápido possível, por isso o retorno do Everest a Kathmandu é feito de helicóptero, sempre em abril/maio e setembro/outubro.

E assim me despeço, esperando que você também sinta felicidade naquilo que faz e acredita, orgulho pelo nosso Brasil, esperança em ver crianças sorrindo e com um futuro digno pela frente!

Logo voltaremos a nos falar, diretamente dos Alpes Europeus!

Super abraço, Namastê!