Escalada em: 06 de abril de 2004.

Junto com: Alexandre Lima e o peruano Carlos Zarate.

Rota percorrida: Normal.

Dificuldade: F, fácil.

Tempo estimado: 2 a 3 dias.

Época adequada: maior a outubro.

Acesso: desde Arequipa, por estrada de terra até Chivay (150 km, 4 horas).

Aproximação: de Chivay, de carro 4×4, até Aquenta (4.800m) (53 km).

Equipamento necessário: básico de alta montanha, bastões de esqui, botas duplas e grampões.

A Escalada:

Nossa aventura de escalar o Mismi começou quando deixamos Chivay (3.600m) em direção a um local chamado Aquenta (4.800m), foram apenas 53 km, mas que levamos o dia inteiro para percorrer devido a precariedade da estrada.

Nos últimos 20 km entramos em uma verdadeira pista off road, superamos 1.200 metros de desnível, pendurando-se pelas encostas dos Andes. Estradinha abandonada faz tempo, estreita, cheia de curvas. O caminhão Andino daria conta do recado sem problemas, se não fossem as chuvas que andavam desabando no final da tarde. E assim, no meio do caminho, ele atolou feio. Levamos mais de 4 horas brigando com a lama, puxando pedras, cavando trilhos, usando o guincho, até ver nosso querido caminhão subindo a montanha novamente. A estradinha continuava, mas quando chegamos aos 4.800m de altitude, o risco de desabamento das laterais da estrada era grande, e ali estacionamos o Andino, num lugar chamado Aquenta, onde ao longe avistamos apenas duas casas.

No dia seguinte, caminhamos até os 5.250m de altitude, onde montamos nosso acampamento já bem perto do Mismi, de lá seguirmos para o leste, descendo um pouco, em busca das nascentes do rio Amazonas. Foi um dos momentos mais emocionantes de toda a minha vida de alpinista, aos 5.180m de altitude, a água da nascente mais alta e distante do maior rio do mundo espirrava para fora da rocha com forte pressão, dando início ao seu longo percurso de 6.700 km em direção ao Oceano Atlântico.

Mal encontramos a nascente do rio Amazonas, desabou uma tempestade. Eram quase 15 horas, voltamos apressados para o acampamento, às vezes nos jogando no chão na esperança de evitar que um raio caísse em nossas cabeças. Era relâmpago e trovoada por todos os lados, um zumbido saia de nossas roupas, o cabelo estralava com a tempestade magnética.

A nevasca aumentava a cada minuto e a paisagem desértica que nos rodeava ficou logo toda branca, nevou até as 18h30. Fomos dormir desanimados, o céu continuava repleto de nuvens escuras e nossa escalada estava ameaçada.

Mas às 4 da madrugada, coloquei a cabeça para fora da barraca e logo dei um grito, a lua cheia estava cintilando num céu repleto de estrelas, tomamos um café rápido e fomos ganhando altitude, para às 7h30 chegar ao alto do Mismi.

Chegar ao alto dos 5.597m de altitude do Mismi não foi apenas chegar ao alto de mais uma montanha, toda aquela neve que nos rodeava dá origem a centenas de nascentes, que vão aos poucos se unindo e se transformando no maior rio do mundo. De alguma maneira, no alto do Mismi, eu me senti ligado ao Brasil, então vibrei ainda mais com está vitória do Projeto Mundo Andino.