Escalada em: 14 de agosto de 2019.

Junto com: Vinícius Todero.

Rota percorrida: Normal, Crista Sudoeste, boa rocha, escalada segura, bem equipada.

Dificuldade: “D”, difícil, IV+ em rocha, até 50º em neve.

Ponto de apoio: Refúgio Schreckhornhütte (2.529m).

Desnível: 1.700m do refúgio, 600m as dificuldades.

Tempo estimado: dois a três dias.

Época adequada: meados ou final do verão (final de julho ou agosto), importante que a rocha esteja seca, porque a escalada é toda em rocha (apenas o acesso é sobre o glaciar).

Acesso / Aproximação: desde Grindelwald (1.034m) (deixar o carro no estacionamento do teleférico Pfingsteggbahn), seguir com o teleférico (www.pfingstegg.ch) até Pfingstegg (1.392m); depois seguir por trilha bem sinalizada, primeiro em direção a Bäregg (1.772m, hotel e restaurante), deste ponto a trilha se torna mais acidentada, e um tanto delicada no salto de rocha Rots Gufer, equipado com escadas e cordas fixas, perigoso se enfrentado com mau tempo, pois os rios enchem rapidamente e invadem a trilha. Após 4h30 a 5h de caminhada se chega ao Schreckhornhütte (2.529m).

Equipamento necessário: completo de escalada em rocha, uma corda de 60m, 5 a 6 friends (pequenos e médios), 8 costuras longas, grampões, um piolet por pessoa é suficiente.

Escalada:

A escalada do Schreckhorn junto com a “Lauteraargrat” (travessia ao Lauteraarhorn), é considerada uma das escaladas mais desafiadoras de todo o projeto Quatro Mil dos Alpes, realizada por apenas 5 ou 6 cordadas por ano, segundo o gestor do refugio Schreckhornhütte.

Conosco não foi diferente, foi uma das escaladas mais gratificantes que já fiz, e não apenas pelo grande desafio e pela beleza da montanha, mas principalmente pelo meu companheiro de cordada, o Vinícius Todero, um dos melhores escaladores do mundo da atualidade, brasileiro para nosso orgulho!

O clima estava péssimo no dia de nossa chegada ao refúgio, chovia forte, em alguns lugares despencavam cachoeiras sobre a trilha, algo que já esperávamos, pois era exatamente o que nos indicava a previsão do tempo, que também nos assegurava um tempo espetacular no dia seguinte. Mas não foi tão simples!

O Vini e eu chegamos encharcados no refugio. O gestor do refugio disse que seria uma loucura tentarmos a escalada, deveria haver nevado muito na parte superior da montanha, e era por isso que o refugio estava completamente vazio.

Para iniciar a escalada, planejamos partir a uma da madrugada, mas quando fui checar o tempo à meia noite ainda estava chovendo. Fiquei de prontidão e vi que lá pelas duas a chuva deu trégua, pulamos da cama, e às três da madrugada iniciamos nossa aventura descendo por uma trilha escorregadia de pedras soltas até o glaciar.

As marcas e montes de pedras que indicavam o caminho sumiram na superfície dura do glaciar. Mesmo sem referência, seguimos em frente, e depois de uns 30 minutos de caminhada rápida, começamos a avistar os “pontos refletivos” ou “olhos de gato” cravados na rocha que indicavam o local que devíamos subir pela morena do lado esquerdo (sentido de nossa caminhada).

Esta subida inicial foi difícil, bem escorregadia, muita pedra solta, bastante água escorrendo pela encosta da montanha que estava de fato com algo de neve recém caída, mas logo a trilha foi se tornando mais definida, com marcos de pedra aqui e ali, e fomos ganhando altura rapidamente até chegarmos ao final da morena, em um lugar onde existem algumas plataformas e vestígios de acampamento chamado Gaagg (3.200m), bom lugar para bivacar para quem não quiser usar o refúgio.

Do Gaagg continuamos em frente, caindo um pouco para à esquerda, seguindo as últimas pedras, até finalmente saltarmos sobre o glaciar por volta dos 3.430m de altitude. Aqui é importante subir o glaciar direto na vertical, pequenos trechos de 50º, e só seguir novamente para a esquerda quando já estiver perto das rochas que existem acima, isso vai evitar uma série de gretas. Mesmo assim, ao iniciar a travessia para a esquerda, outras gretas vão surgir, principalmente se for no final da temporada. Evite descer, mantenha a cota e suba mais um pouco quando possível, logo se chega ao evidente corredor que leva à base da “rampa”, inicio da escalada técnica.

Chegamos neste ponto quando já estava amanhecendo, o que facilitou avistar uma grande marca com tinta vermelha na rocha, à esquerda do corredor. Se recomenda ultrapassar a rimaya ou greta marginal à direita do corredor, e mais acima fazer a travessia para à esquerda. Embora um pouco mais difícil tecnicamente, passos de V em rocha, é muito melhor ir direto em direção a marca de tinta vermelha, onde já se avista a primeira parada com chapeletas deste acesso equipado em 2017, superado em um esticão de uns 40m que leva direto ao início da “rampa”.

A “rampa” é uma espécie de amplo corredor que leva até a Crista Oeste, com neve e gelo é melhor ir bem pelo centro deste corredor usando os grampões, mas para quem gosta de escalar em rocha é natural ir buscando passagens mais secas no esporão que acompanha a rampa do lado esquerdo (sentido da subida), é um trepa pedra fácil, mas exposto em alguns lugares. Ficar atento na parte alta, para não passar o ponto de entrada na Crista Oeste, um evidente esporão vertical, onde se inicia a melhor parte da escalada, com ótima rocha, e paradas com chapeletas a cada 25m. São cerca de dez esticões de 25 a 30m até o ante cume, onde as dificuldades diminuem.

Chegamos no cume por volta das 10h, tempo espetacular, mas com um pouco de vento. A neve salpicada sobre a rocha deixou nossas mãos um pouco frias, e logo nos abrigamos do vento no lado oposto de nossa chegada para fazer um lanche e observar a travessia que faríamos ao Lauteraarhorn, ainda mais desafiadora.

Descida: descer pelo mesmo caminho não é tão difícil, pois são feitos vários rapeis usando as paradas com chapeletas da Crista Oeste.

Como fizemos a travessia até o Lauteraarhorn, não descemos pela mesma rota da subida. Para ver como foi a descida pelo Lauteraarhorn clicar aqui.